São vários os fatores que constroem a identidade de um ser humano: aspectos sociais, apropriação de conceitos alheios e experiências próprias no decorrer de nossa estranha existência. À medida que a sociedade se adapta às mudanças no decorrer dos séculos, somos sentenciados a novos valores, tradições e costumes. E com esse admirável mundo novo do século XXI não seria diferente.
As chances de você alcançar o sucesso em todos os lados do espelho desse prisma chamado vida são maiores comparados com o meio em que sua avó cresceu. Pra falar a verdade, a única diferença entre o seu tempo e o dela é que a oferta de máscaras disponíveis no mercado é maior. Você pode (aparentar) ser aquilo que você quiser sem se preocupar com o que você realmente é. Nesse sentido, Lars Von Trier parece um mestre de expor a complexidade humana, despindo a todos nós de todas as farsas em que somos forçados a atuar. Em "Melancholia", Justine, interpretada por Kirsten Dunst, é uma mulher que possui uma vida perfeita e equilibrada, mas que oculata dentro de si o peso melancólico de não sentir interiormente completamente sua vida exterior. É parte do clichê comum "Mas fulano tem tudo! Não há motivo para ele ser/agir assim!"
A questão não envolva simplesmente o fato de não conseguirmos ser nós mesmos a todo momento, mas aborda o discurso de que ninguém sabe realmente o que sentimos e pensamos. É aquela sensação de tristeza que às vezes não sabemos exprimir, apenas sentir.
Se transportarmos para a realidade comum a atmosfera melancólica e vazia criada por Lars Von Trier, não ficamos espantados ao perceber que esse sentimento é mais presente do que se pode imaginar. Mais recentemente, um menino de 10 anos se apropriou da arma do pai, levou-a para a escola, atirou na professora e depois se suicidou com um tiro na cabeça. O crime, ocorrido em São Caetano do Sul, chocou não só pela ação da criança em si, mas pela afirmação que todos fizeram: "Era um menino bom, inteligente, e que nunca faria algo desse tipo."
Pelo fato de admitirem conhecer tão bem essa criança, acreditar no que ele foi capaz de fazer é duvidar de sua própria capacidade de confiar. Ao invés de procurarmos possíveis motivações do crime, resta-nos levantarmos não só questões sócio-educativas, mas sobre o ser humano e sua relação com o outro. O menino D., aparentemente normal, e Justina, aparentemente feliz. Não somos capazes de desvendar o outro, muito menos a nós mesmos. É a melancolia inserida num contexto abstrado e atuando na realidade. De máscaras vivemos, e só nós sabemos o que se passa por trás delas.
Por: Camila Mazi Dacome
camilla_mazi@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário