E por que a artista opta pela metáfora da descida, e não da subida de degraus da escada? Possivelmente para retratar uma visão pessimista da experiência humana, que, embora os livros de auto-ajuda digam que é feita de autos e baixos, também pode ser compreendida como uma sucessão de obstáculos, num movimento constante de declínio. "Descendo as escadas" permite a conclusão de que o tempo passa, o mundo gira, mas as coisas acabam voltando sempre ao estado em que inicialmente se encontravam. Um possível entendimento dessa lógica reside na constatação de que a revolução socialista preconizada por Karl Marx nunca aconteceu. O sistema econômico ainda é o mesmo, sendo assim a vida social pouco se altera, e está em constante declínio, ou em constantes e sucessivas situações de descida.
Embora se pareça interessante que as pessoas cheguem a essa ou outra conclusão a respeito da obra de Silveira, como forma de se libertar das amarras ideológicas de um sistema que anseia por uma população conformada, cabe perguntar: quem desce as escadas? Ainda que a intenção da artista seja boa, não me parece razoável supor que os sujeitos apressados que utilizam o metrô irão desfrutar as instalações. E ainda, que decidam parar por um momento para ver do que se trata, não conseguirão refletir profundamente sobre suas existências, já que a obra se insere no tempo do trabalho,e não do ócio.
Sendo assim, o alcance é sempre limitado aos intelectuais, que se deslocam até a obra com o intuito específico de conhecê-la. Aos que passam e verificam o que está lá de maneira curiosa e descompromissada, enquanto aguardam a chegada do próximo trem, fica apenas o entretenimento raso de uma instalação cibernética que não se encontra em qualquer lugar. Ou seja, o público de arte é sempre o mesmo. É ingênuo pensar que instalações colocadas em lugares de grande movimentação popular irão despertar o apreço artístico em pessoas que ainda possuem carências mais básicas, como alimentação, educação e saúde, e vivem constantemente pressionadas por rotinas árduas de trabalho.
Juliana Meres Costa
Juliana Meres Costa
juliana.meres@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário